Titulo: Capitães da AreiaAutor: Jorge AmadoEditora: Companhia Das Letras junto com TAG Paginas: 304Gênero: Ficção: Literatura BrasileiraAvaliação: ❤❤❤❤❤
"Capitães da Areia é um clássico da literatura brasileira, lançado em 1937 e causou um alvoroço na época, vários exemplares foram queimados em praça publica à mando do Estado Novo, mesmo tendo essa restrição o livro não foi extinto muito pelo contrário, muitos foram atraídos pela história do grupo de meninos pobres que viveram em um velho trapiche. E essa é a primeira vez que um garoto 'trombadinha' se torna o protagonista na literatura brasileira.
Toda história se passa nas ruas de salvador, narrando a vida de: Pedro Bala (o líder), Pirulito (o religioso), Sem-Pernas (o nervoso), Gato (o galã), Professor (o artista e inteligente), Volta Seca (o sertanejo) e todos os outros meninos abandonados que ali vivam. Tinham que enfrentar os policiais que sentiam prazer em tortura-los, enfrentar as doenças principalmente a varíola que atingiu boa parte da população, e vários outros fatores, eles tinham que roubar para sobreviver, muitos eram apenas crianças que por falta de opção já tinham uma vida de um homem adulto. Apesar de serem agressivos, e não terem nenhum carinho familiar muito menos o aconchego de uma casa com comida e roupas quentinhas, é ali que eles sentem a liberdade, e o grupo se torna uma família. Eles vivem perto do porto um lugar bem pobre porém é na cidade alta em que eles vão praticar seus delitos."
Minha opinião sobre o livro sem spoiler (abaixo colocarei uma marcação para spoiler): Eu nunca havia lido um clássico brasileiro esse foi o meu primeiro e eu me surpreendi muito. Durante toda a narração é bem nítida a linguagem regional que me chamou bastante atenção inclusive eu fiz um post com algumas falas que me chamaram a atenção no começo da leitura (
https://lernosfazviajar.blogspot.com/2020/06/capitaes-da-areia.html). Durante todo o livro eu me sentia como se estivesse mesmo la presenciando todos os acontecimentos narrados, a história tem uma riqueza de detalhes que me chocou, eu me senti envolvida em várias partes e muitas das vezes eu fiquei com o coração apertado com o que acontecia com os personagens. Mas tudo que foi falado retrata realidade não só daquela época mas até mesmo de agora que temos várias crianças e jovens que são largados na rua e precisam mesmo lutar para sobreviver. Tem uma frase que nos traz um pouquinho de como os garotos se sentiam como família mesmo e também uma outra parte que fala sobre eles terem que roubar e eu vou deixar aqui para vocês:
"Neste momento de
música eles sentiam-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram
irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o
carinho e conforto da música "
"Se faziam tudo aquilo
é que não tinham casa, nem pai, nem mãe, a vida deles era uma vida sem ter
comida certa e dormindo num casarão quase sem teto. Se não fizessem tudo aquilo
morreriam de fome, porque eram raras as casas que davam de comer a um, de
vestir a outro. E nem toda a cidade poderia dar a todos. "
Pra fechar esse ciclo na minha edição temos uma frase da Zélia Gattai Amado esposa de Jorge Amado onde ela diz que " Para escrever Capitães da Areia, Jorge Amado foi dormir no trapiche com os meninos. Isso ajuda a explicar a riqueza de detalhes, o olhar e a empatia que estão presentes na história" bom com essa frase para mim realmente já explica tudo, pode não ser verdade? pode, mas se a mulher dele quem disse, para mim já basta.
Sobre a aparência física do livro: A minha edição é uma mais recente feita pela TAG junto com a Companhia Das Letras que está maravilhosa, é bem diferente das versões antigas e mais comuns que vendem, nela além de ter a história real mesmo do jorge Amado também temos um posfácio de Milton Hatoum e também há uma cronologia de Jorge Amado. O livro é em capa dura acompanhado de um marca página, acho também que a fonte seja diferente e que tenha alguns detalhes diferentes mas como não li a versão comum eu não posso garantir. Eu indico ela para vocês lerem, ela é um pouquinho mais grossinha mas vale a pena.
Agora um pouquinho da minha opinião com bastante spoiler então se você tem algum problema com isso pule esse parte: Teve umas partes que me chamou muita atenção nesse livro que provavelmente deve ter chamado a atenção de muitos outros também como a parte em que o Sem-Pernas vai para a casa da dona Ester, em que ela trata ele como filho e ele se sente acolhido pela primeira vez, e ele fica naquela indecisão de trair os seus ou trair aquela família que deu tudo aquilo que ele nunca teve. Essa parte me deixou tão triste porque dá para percebermos o quanto ele se sentiu mal por fazer o que fez.
"-Não chore por sua
mãe. Agora você tem outra mãezinha que lhe quer bem e fara tudo para substituir
a que você perdeu...(...e ele faria tudo para substituir o filho que ela perdera,
ouviu o Sem-Pernas dentro de si).
Dona Ester o beijou na face onde as lagrimas corriam.
-Não chore que sua mãezinha fica triste. "
Uma outra parte que na verdade que me deixou muito feliz foi a chegada de Dora no trapiche, aquele processo de aceitação deles e depois a visão que eles construíram dela, para muitos ela foi considerada a sua mãezinha com todos aqueles cuidados, para outros a irmã que além de cuidar ajudava nas ruas a ganhar o pouco para sobreviver e ainda se divertiam, já para o Professor e para Pedro a Noiva ao qual sentiam não apenas um desejo mas um amor que eles não compreendiam. Nessa parte eu senti que finalmente eles tiveram uma família mesmo sabe, eles estavam completos.
"Para os menores é
como uma mãezinha, igual a uma mãezinha. Cuida deles. Para os mais velhos é
como uma irmã que diz palavras boas e brinca inocentemente com eles e com eles
passa os perigos da vida aventurosa que levam. Mas nenhum sabe que para Pedro
Bala ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe. E dentro do seu coração
Professor também a chama de noiva."
E como quase nada são flores não é mesmo? Acontece para mim a parte mais triste nesse livro, depois de Pedro Bala ser mandado para o reformatório ter sofrido tanto lá, louco para sair e buscar Dora que foi mandada para o orfanato, e depois de finalmente sair, conseguir tirar Dora do orfanato me acontece o quê? Ela morre , gente que infelicidade viu, voltei a ficar com o coração na mão, eu fiquei sem acreditar no que aconteceu mas isso nos mostra o quanto essa história é realista e pé no chão.
“Voltam para o
trapiche. A vela branca do saveiro se perde no mar. A lua ilumina o areal, as
estrelas tanto estão no céu como no mar. Há uma paz na noite. Paz que veio dos
olhos de Dora “
A morte do Sem-Pernas também me deixou triste, mas eu entendo a preferencia dele de se matar ao invés de ser pego pelo policiais de novo e o final de Pedro Bala era o que eu imaginava desde o começo de quando contaram para ele a história do pai e eu me senti grata por ser desse jeito.
O desfeche de toda a história é muito bom, eu gostei bastante, super indico para todos, e que bom que eu li esse livro por agora que eu tenho uma maturidade maior de entendimento que antes. Amei demais e pretendo ler outros porque realmente me encantou. Espero que tenham gostado e até a próxima!
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